O Greenpeace divulgou hoje um relatório impactante que destaca como a reciclagem de plásticos aumenta sua toxicidade, apontando para a incompatibilidade dessa prática com uma economia circular. O documento chega às vésperas das negociações globais sobre o Tratado de Plásticos, que ocorrerão na próxima semana em Paris, reunindo dados científicos que destacam a urgência de reduzir a produção e o uso de plástico.
De acordo com a pesquisa realizada em todo o mundo pela organização ambientalista, os plásticos reciclados geralmente contêm níveis mais altos de produtos químicos que podem envenenar as pessoas e contaminar as comunidades. O Greenpeace argumenta que a reciclagem não deve ser considerada uma solução para a crise da poluição.
O relatório busca modificar a equação da economia circular no que diz respeito ao plástico, destacando a importância da separação, reutilização, reparação, renovação e reciclagem de materiais e produtos existentes.
Estima-se que a produção global de plástico triplique até 2060, o que torna ainda mais urgente o apelo do Greenpeace pelo fim do plástico. Graham Forbes, coordenador da Campanha Global de Plásticos do Greenpeace nos Estados Unidos, enfatiza que a indústria do plástico, incluindo combustíveis fósseis, petroquímicos e empresas de bens de consumo, continua a apresentar a reciclagem como a solução para a crise da poluição plástica. No entanto, o relatório revela que a toxicidade do plástico na verdade aumenta com a reciclagem, deixando claro que os plásticos não têm lugar em uma economia circular.
Segundo Forbes, a única solução real para acabar com a poluição plástica é reduzir drasticamente a produção de plástico. Uma investigação paralela também destaca que a reciclagem espalha a poluição microplástica no meio ambiente.
A análise apresentada pelo Greenpeace revela que os plásticos reciclados contêm níveis mais elevados de produtos químicos tóxicos, incluindo retardadores de chama, benzeno e outros carcinógenos, bem como poluentes ambientais, como dioxinas bromadas e cloradas, e diversos desreguladores endócrinos que podem afetar os níveis hormonais do corpo.
Therese Karlsson, consultora científica da Rede Internacional de Eliminação de Poluentes (IPEN), argumenta que os plásticos são feitos com produtos químicos tóxicos, e esses produtos químicos não desaparecem simplesmente quando os plásticos são reciclados. Ela ressalta que a ciência mostra claramente que a reciclagem de plástico é um processo tóxico que representa ameaças à saúde humana e ao meio ambiente em todas as etapas da cadeia de reciclagem.
Karlsson deixa claro que o plástico envenena a economia circular, os corpos das pessoas e polui o ar, a água e os alimentos, enfatizando que não se deve reciclar plásticos que contenham produtos químicos tóxicos. Para resolver efetivamente a crise dos plásticos, são necessários controles globais sobre produtos químicos presentes no plástico e reduções significativas na produção de plásticos.
O Tratado de Plásticos, acordado por representantes de 173 países em 2022, tem como objetivo abordar todo o ciclo de vida dos plásticos, desde a produção até o descarte. No entanto, a Greenpeace critica a exclusão das comunidades de países em desenvolvimento nesse processo e ressalta que o descarte de resíduos plásticos e o envio de lixo plástico pelos países ricos para os mais pobres afetam desproporcionalmente as comunidades mais vulneráveis.
Com a próxima reunião em Paris, a rede global do Greenpeace pretende obter um acordo ambicioso e juridicamente vinculativo que acelere uma transição justa para reduzir drasticamente a dependência de materiais plásticos e estabeleça controles globais para regular produtos químicos tóxicos presentes no plástico. Seu plano de sete pontos inclui propostas como o princípio poluidor-pagador para a gestão de resíduos plásticos, onde quem polui mais deve arcar com maiores custos, e a garantia de segurança e proteção dos trabalhadores em instalações de reciclagem.
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